Cinco mulheres de países africanos de expressão lusófona (Angola, Cabo Verde e Moçambique) vão conduzir projetos de investigação nas áreas do cancro, malária, doenças respiratórias e genética. Apoio no âmbito do concurso “We Search” vai financiar estudos.
Pamela Borges é investigadora principal do Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Universitário Agostinho Neto de Cabo Verde. A cientista é responsável pelo projeto de cuidados oncológicos personalizados (CVPOC, sigla em inglês), com foco na problemática do cancro, considerado um problema de saúde em Cabo Verde por constituir já a segunda principal causa de morte.
“Verificou-se que há uma necessidade urgente de se investir em projetos que fomentem o diagnóstico precoce, que, de certa forma, aumentem também a qualidade e a eficiência dos tratamentos e da terapêutica. E, obviamente, o objetivo final é, de certa forma, melhorar a sobrevivência dos pacientes diagnosticados com cancro em Cabo Verde”, referiu em entrevista à DW.
Pamela Borges é uma das cinco mulheres, entre 75 candidaturas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), selecionadas para estudar doenças crónicas que afetam particularmente as populações de Cabo Verde, Angola e Moçambique.
“Este projeto, além do diagnóstico, também vem reforçar a investigação científica na área na área do cancro”, disse. “Trabalho que já começámos a fazer, que é a identificação das mutações hereditárias prevalentes no seio dos pacientes diagnosticados com o cancro de mama em Cabo Verde”, acrescentou.
Isto implica a aquisição de equipamentos adequados e aposta na qualificação de recursos humanos, que permitirão aprofundar estudos sobre a oncologia personalizada.
Em Moçambique, a investigação liderada pela cientista Carla Carrilho, na Universidade Eduardo Mondlane, vai também procurar métodos alternativos de diagnóstico e tratamento do cancro da mama em locais com poucos recursos, através do teste com o sistema GeneXpert, amplamente mais acessível nos hospitais africanos.
Combater a mortalidade materna e fetal
Outro dos projetos selecionados é o de Joana Morais. O seu estudo, a ser desenvolvido pelo Centro de Investigação em Saúde de Angola, visa avaliar os efeitos de doses baixas da aspirina diária em mulheres grávidas com anemia das células falciformes. Trata-se de um problema de saúde pública mundial, com maior incidência na África subsaariana.
“O que propomos com este estudo é nada mais do que quantificar a redução do número de partos prematuros, também da mortalidade materna e do aborto espontâneo usando aspirina em baixas doses numa fase muito precoce do período de gestação. Ou seja, no primeiro trimestre gestacional”, contou.
O objetivo desta investigação é encontrar possíveis soluções profiláticas que possam ajudar na prevenção de complicação na gravidez em mulheres com aquela doença.
“Acreditamos que os resultados e informações que vão surgir durante a vigência deste estudo poderão contribuir significativamente para a redução da mortalidade materno-infantil nesta população tão frágil”, afirmou.
O estudo vai envolver 450 participantes do sexo feminino de todas as idades, a serem recrutadas livremente em diversas maternidades de Luanda, que estejam grávidas, e que tenham diagnóstico confirmado de doença falciforme.
Os projetos terão um suporte financeiro de 750 mil euros, fruto da parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação La Caixa. Maria Hermínia Cabral, diretora do Programa Parcerias com África da Gulbenkian, considera que “esta parceria com a Fundação La Caixa começou em 2018 e tem vindo a evoluir desde então. Começou com a formação em gestão de Ciência, tendo depois evoluído para um primeiro concurso de apoio à investigação em saúde e agora deu-se mais um passo no sentido de estimular a investigação clínica em várias áreas”.
Fruto da colaboração entre as duas instituições, o programa “We Search”, lançado com a assinatura de um protocolo em 2022, é um concurso para reforçar instituições científicas e projetos de investigação clínica nos PALOP.
Fonte: DW África