17 de Junho, 2025

Colaboração entre pesquisadores da Unipiaget, Brasil e Portugal destaca impacto da negligência no tratamento do autismo em crianças

Um estudo desenvolvido por uma equipe formada por um pesquisador angolano, Joel Manuel, da Universidade Jean Piaget de Angola (Unipiaget), um pesquisador português e oito brasileiros, analisou os impactos da negligência familiar no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os resultados reforçam a importância do apoio familiar contínuo como factor decisivo para o sucesso terapêutico e a inclusão social dessas crianças.

A pesquisa do tipo revisão de literatura, realizada no Brasil, analisou evidências científicas sobre como a ausência de envolvimento familiar pode comprometer o diagnóstico precoce, dificultar a adesão ao tratamento e afectar negativamente o desenvolvimento emocional, social e cognitivo de crianças com autismo. O levantamento foi realizado entre novembro de 2024 e abril de 2025.

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades persistentes na comunicação social, além de comportamentos repetitivos e restritivos. A prevalência global tem aumentado, com estimativas apontando que 1 em cada 100 crianças apresenta sinais compatíveis com o transtorno.

O papel da família

De acordo com os autores, o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que exige uma abordagem multidisciplinar, contínua e personalizada. O sucesso terapêutico, depende não apenas da atuação de profissionais especializados, mas principalmente do engajamento da família no processo.

A negligência, entendida como a omissão de cuidados físicos, emocionais e educacionais, pode ter efeitos devastadores. Crianças com TEA expostas a ambientes familiares negligentes tendem a apresentar atrasos mais acentuados no desenvolvimento, maior resistência às terapias, dificuldades escolares, além de um risco elevado de comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e depressão.

Diagnóstico tardio e perda de oportunidades

O estudo mostra que a identificação precoce dos sinais do autismo geralmente começa com a observação dos pais. Quando há negligência, essa etapa é frequentemente ignorada ou adiada, resultando em diagnóstico tardio e perda de oportunidades cruciais para intervenções precoces, que são decisivas para o prognóstico da criança.

Austismo em Angola

Embora o estudo tenha sido conduzido em instituições brasileiras, o tema é relevante para Angola. Segundo estimativas do ministério da saúde, o país possui mais de 500 mil pessoas vivendo com autismo. Angola enfrenta dificuldades como, o pouco conhecimento da doença a nível da população que contribui para a falta de diagnóstico precoce.

Consequências emocionais e sociais

Crianças e adolescentes com TEA precisam sentir-se acolhidos e compreendidos para desenvolver autoestima e habilidades sociais. A negligência emocional pode gerar sentimentos de abandono e insegurança, agravando ainda mais os sintomas do transtorno e dificultando a inclusão em contextos escolares e sociais.

No ambiente educacional, a falta de diálogo entre escola e família compromete a adaptação pedagógica e o sucesso acadêmico do aluno com TEA, ampliando o risco de fracasso escolar, evasão e exclusão.

Para os pesquisadores, reconhecer e valorizar o papel da família no tratamento do autismo é essencial para garantir uma vida mais digna e inclusiva às pessoas com TEA.

Por: Humberto Serviço

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