Um estudo desenvolvido por uma equipe formada por um pesquisador angolano, Joel Manuel, da Universidade Jean Piaget de Angola (Unipiaget), um pesquisador português e oito brasileiros, analisou os impactos da negligência familiar no tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os resultados reforçam a importância do apoio familiar contínuo como factor decisivo para o sucesso terapêutico e a inclusão social dessas crianças.
A pesquisa do tipo revisão de literatura, realizada no Brasil, analisou evidências científicas sobre como a ausência de envolvimento familiar pode comprometer o diagnóstico precoce, dificultar a adesão ao tratamento e afectar negativamente o desenvolvimento emocional, social e cognitivo de crianças com autismo. O levantamento foi realizado entre novembro de 2024 e abril de 2025.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades persistentes na comunicação social, além de comportamentos repetitivos e restritivos. A prevalência global tem aumentado, com estimativas apontando que 1 em cada 100 crianças apresenta sinais compatíveis com o transtorno.
O papel da família
De acordo com os autores, o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que exige uma abordagem multidisciplinar, contínua e personalizada. O sucesso terapêutico, depende não apenas da atuação de profissionais especializados, mas principalmente do engajamento da família no processo.
A negligência, entendida como a omissão de cuidados físicos, emocionais e educacionais, pode ter efeitos devastadores. Crianças com TEA expostas a ambientes familiares negligentes tendem a apresentar atrasos mais acentuados no desenvolvimento, maior resistência às terapias, dificuldades escolares, além de um risco elevado de comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e depressão.
Diagnóstico tardio e perda de oportunidades
O estudo mostra que a identificação precoce dos sinais do autismo geralmente começa com a observação dos pais. Quando há negligência, essa etapa é frequentemente ignorada ou adiada, resultando em diagnóstico tardio e perda de oportunidades cruciais para intervenções precoces, que são decisivas para o prognóstico da criança.
Austismo em Angola
Embora o estudo tenha sido conduzido em instituições brasileiras, o tema é relevante para Angola. Segundo estimativas do ministério da saúde, o país possui mais de 500 mil pessoas vivendo com autismo. Angola enfrenta dificuldades como, o pouco conhecimento da doença a nível da população que contribui para a falta de diagnóstico precoce.
Consequências emocionais e sociais
Crianças e adolescentes com TEA precisam sentir-se acolhidos e compreendidos para desenvolver autoestima e habilidades sociais. A negligência emocional pode gerar sentimentos de abandono e insegurança, agravando ainda mais os sintomas do transtorno e dificultando a inclusão em contextos escolares e sociais.
No ambiente educacional, a falta de diálogo entre escola e família compromete a adaptação pedagógica e o sucesso acadêmico do aluno com TEA, ampliando o risco de fracasso escolar, evasão e exclusão.
Para os pesquisadores, reconhecer e valorizar o papel da família no tratamento do autismo é essencial para garantir uma vida mais digna e inclusiva às pessoas com TEA.
Por: Humberto Serviço