Um homem de 45 anos, que havia sido admitido no hospital devido a um aneurisma cerebral rompido, relatou uma história de 2 horas de dor abdominal que, posteriormente, desenvolveu-se evaquação de grande quantidade de sangue pelo reto (conhecida como hematoquezia). Cinco dias antes do início destes sintomas, havia sido realizada uma embolização assistida por stent do aneurisma cerebral rompido e iniciado o tratamento com aspirina e clopidogrel. Após o início da hematoquezia, foram administrados fluidos intravenosos, transfusões e vasopressores para tratar o choque hemorrágico.
Os achados na endoscopia e colonoscopia de emergência não foram notáveis. A angiografia computadorizada (CTA) mostrou um foco denso de material de contraste no jejuno proximal (Imagem A, setas pretas), material de contraste extravasado em um laço adjacente do intestino (Imagem A, seta branca) e acúmulo de sangue intraluminal. A CTA é um método de imagem altamente preciso para a localização de sangramentos gastrointestinais intensos.
Posteriormente, durante a laparotomia (Imagem B), foi encontrado e ressecado um divertículo sangrante no intestino delgado. Os intestinos delgados estavam de cor escura devido o acúmulo intraluminal de coágulos sanguíneos e ao edema isquémico da parede intestinal. Foi feito um diagnóstico final de choque hemorrágico devido o sangramento de divertículo no intestino delgado. O paciente recebeu alta em bom estado no 21º dia de hospitalização e retornou o tratamento com aspirina.
A diverticulite é uma inflamação de pequenas saculações salientes no intestino. Esta doença é muito comum em 5% da população com 40 anos, 30% em população com 60 anos e 65% com 85+ anos, e a distribuição por sexo é igual. Além disto, grande parte dos divertículos são diagnosticados no cólon sigmoide e podem variar de 3mm à 3cm, que podem ser hipertônicos (myochosis coli) ou simples em massa.
Os “pontos” no interior são os divertículos.
A maioria dos pacientes com doença diverticular é assintomática, e os divertículos são frequentemente descobertos por clister opaco (um tipo de radiografia / raio X) ou colonoscopia realizados por outros motivos. Dentre os sintomas mais frequentes constam dor ou desconforto abdominal em baixo ventre, mudanças no hábito intestinal, síndrome do intestino irritável.
Apesar de ter um diagnóstico complexo e complicações que podem levar a perda da vida (principalmente por hemorragia), o tratamento desta doença envolve o aumento de ingesta de alimentos ricos em fibra (cereais, frutas e vegetais), suplementação dietética de fibras (psyllium / Metamucil, farelo de trigo e metilcelulose), aumento da ingesta hídrica (2-2,5L por dia), antiespasmódicos ou analgésicos (não derivados de ópio).
É fundamental resgatar o dogma de que a procura por um profissional de saúde capacitado, diagnóstico e tratamento corretos associados ao autocuidado e a busca pelo conhecimento são fulcrais para a melhoria do estado de saúde.
Artigo de Óscar Paulo & New England Journal of Medicine.
O melhor método de cuidado, para todos nós e os que amamos, ainda é a prevenção.
Óscar Paulo JR, graduando de Medicina e monitor de Habilidades Clínicas na SLMANDIC – Faculdade São Leopoldo Mandic.
Presidente da Liga de Medicina Intensiva da SLM – Campinas (Dez. 2021 – Jan. 2023).
Tesoureiro da Liga de Cardiologia da SLM – Campinas (Jan 2021 – Jan 2023).
Voluntário e diretor do GEPE da Change 1’s Life AO (2020-2021).