16 de Outubro, 2024
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ONU e líderes globais firmam acordo para redução de mortes por resistência a antibióticos em 10% até 2030
Internacional

Na semana passada, uma Reunião de Alto Nível da ONU trouxe à tona um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo: a resistência antimicrobiana (RAM). Este fenômeno, conhecido como “pandemia silenciosa”. A ONU anunciou um compromisso global de reduzir em 10% as mortes causadas por bactérias resistentes a medicamentos nos próximos seis anos. Embora essa meta possa parecer modesta, é um passo crucial diante de previsões alarmantes que indicam que, até 2050, a RAM pode ser responsável pela morte de 39 milhões de pessoas.

O Impacto da resistência antimicrobiana em Angola

Embora a resistência antimicrobiana seja uma ameaça global, o impacto nos países de baixa e média renda é especialmente preocupante. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas nações carregam o maior peso das infecções resistentes a medicamentos. Angola, com um sistema de saúde em desenvolvimento e desafios estruturais, está entre os países vulneráveis a essa ameaça crescente.

A RAM afeta diretamente o combate a doenças comuns em Angola, como infecções respiratórias, malária e tuberculose. Muitos antibióticos amplamente utilizados no país já estão perdendo sua eficácia devido ao uso excessivo e inadequado, tanto em humanos quanto na produção pecuária. Isso significa que casos de infecções simples podem se agravar e levar a complicações severas, aumentando a pressão sobre o sistema de saúde angolano.

O efeito da resistência antimicrobiana em escala global

A resistência antimicrobiana já está causando estragos significativos. Em 2021, cerca de 1,14 milhão de pessoas morreram diretamente devido a infecções resistentes a medicamentos, e outros 4,71 milhões de óbitos foram associados a essas infecções, segundo estimativas publicadas na revista científica The Lancet. As mortes relacionadas à RAM superam as causadas por doenças como o HIV/AIDS e a malária.

Se nada for feito para controlar essa ameaça, atividades simples e rotineiras, como uma consulta ao dentista ou um pequeno corte na pele, podem resultar em infecções fatais. Sem antibióticos eficazes, estaremos à mercê de infecções que antes eram tratáveis, revertendo décadas de avanços na medicina.

Compromissos e Desafios

Na nova declaração da ONU, além da meta de redução de mortes, os países se comprometeram a arrecadar US$ 100 milhões para atualizar e implementar os planos nacionais de combate à RAM. Essa iniciativa será coordenada por um secretariado composto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ONU Meio Ambiente (PNUMA) e Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).

Embora mais de 90% dos países já tenham desenvolvido planos de ação contra a RAM, apenas 11% dispõem de recursos financeiros para executá-los, o que torna o financiamento crítico para o sucesso dessas iniciativas.

No entanto, o rascunho final da declaração gerou críticas ao não incluir uma meta anterior de reduzir em 30% o uso de antibióticos em animais até 2030, em grande parte devido à pressão de países produtores de carne e da indústria agrícola. Isso é preocupante, considerando que o uso de antibióticos na pecuária representa 73% das vendas globais de antimicrobianos. A falta de controle nesse setor pode comprometer seriamente os esforços globais para combater a RAM.

Um cenário preocupante

Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados e uma das principais defensoras da luta contra a RAM, destacou que o problema afeta diretamente milhões de famílias ao redor do mundo, inclusive a sua. Em uma coletiva de imprensa, ela alertou que a resistência antimicrobiana pode se tornar a principal causa de morte até 2050, caso medidas globais não sejam intensificadas.

Ela ressaltou que esta luta não é apenas para as gerações atuais, mas principalmente para os jovens, que enfrentarão um futuro em que os antibióticos, antivirais e outros tratamentos podem não funcionar mais. “Esta pandemia silenciosa é uma ameaça real e presente para todos”, declarou Mottley, enfatizando que o trabalho mais desafiador ainda está por vir.

Próximos Passos

A OMS está determinada a liderar essa luta, anunciando a criação de um painel independente para avaliar e sugerir ações sobre a RAM até o próximo ano. Além disso, a estratégia global da OMS sobre resistência antimicrobiana será atualizada até 2026, para refletir as mudanças necessárias na abordagem do problema.

É essencial que governos, indústria e sociedade civil unam forças para enfrentar a resistência antimicrobiana. Se os esforços falharem, enfrentaremos um futuro sombrio, onde os avanços médicos do último século serão praticamente inúteis, e doenças hoje controláveis voltarão a ser fatais.

A luta contra a RAM é urgente e inadiável. É um desafio global que exige ação coordenada e investimentos significativos, tanto em saúde pública quanto em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos.

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