Quais os problemas oculares mais comuns na infância?

Sabia que a visão é responsável por aproximadamente 80% da nossa percepção do mundo nos primeiros anos de vida? A saúde visual infantil é um factor decisivo para o desenvolvimento social e educativo das crianças, porém, o aparecimento de doenças oculares passa, muitas vezes, despercebido. O estrabismo, a ambliopia, a hipermetropia e os erros refractivos, como o astigmatismo e a miopia, são, segundo o primeiro Relatório Mundial Sobre a Visão da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2019, as doenças oculares mais comuns na infância e, sem o tratamento correcto, a tendência é agravarem com a idade.

Quanto mais novas são as crianças, mais difícil pode ser detectar a existência de problemas de visão, visto que nem sempre sabem expressar de forma explícita os sintomas que sentem, especialmente se forem bebés.

Estar atento aos sinais que os olhos das crianças manifestam, como vermelhidão, comichão ou lacrimejamento, e à adopção de determinados comportamentos, como sentar-se muito próximo da televisão, pode ser o suficiente para perceber que algo não está bem com a sua visão, sendo recomendada a marcação de uma consulta de oftalmologia pediátrica.

O aparecimento de erros refractivos, como a miopia – que consiste na projecção da imagem à frente da retina, o que causa a redução da qualidade da visão ao longe – e o astigmatismo – associado a uma alteração na curvatura da córnea, que provoca o desfoque da visão tanto ao longe como ao perto -, é muito comum na infância, especialmente se os pais também apresentarem estas dificuldades visuais, uma vez que podem ser transmitidas geneticamente.

Contrariamente ao que acontece com a miopia, a hipermetropia é um erro refractivo que causa uma projecção da imagem atrás da retina, provocando dificuldades em ver ao perto e dores de cabeça, bem como um pestanejar e lacrimejar frequentes. Um indício do aparecimento desta condição é, por exemplo, o facto de a criança fazer um esforço maior para realizar as suas tarefas escolares ou para escrever de forma legível.

Já a ambliopia, mais conhecida como “olho preguiçoso”, é um problema ocular caracterizado pela diminuição da acuidade visual de um ou dos dois olhos, que resulta do facto de a criança ter uma visão muito boa num dos olhos e muito má no outro. Assim, o cérebro não reconhece a imagem menos nítida do “olho mau” e favorece o outro olho, bloqueando a imagem enviada pelo olho que vê pior.

Quando não é tratada em idade precoce, idealmente até aos 6 anos, ainda que quanto mais cedo melhor, a ambliopia pode estender-se à idade adulta, em que já é muito difícil reverter o processo, ficando o indivíduo com perda visual permanente. Em criança, o tratamento passa por tapar o olho que possui melhor visão, para que o outro venha eventualmente a melhorar e a corrigir-se.

Outro problema ocular muito comum na infância é o estrabismo, frequentemente apontado como uma causa da ambliopia. Geralmente, manifesta-se nos primeiros meses de vida e consiste numa alteração nos centros de controlo dos movimentos oculares existentes no cérebro, que garantem a movimentação correcta dos olhos. No estrabismo existe uma perda do paralelismo ocular que causa o desalinhamento dos olhos em direcções diferentes, podendo ser tratado através da utilização de óculos, da injecção de toxina botulínica ou de cirurgia.

Nas consultas de rotina de pediatria, a visão do bebé é sempre avaliada, mas é aconselhável que, até aos 4 anos, a criança faça um rastreio visual completo, de modo a que, no caso do surgimento de uma doença ou problema oculares, este possa ser rapidamente identificado e tratado.

É importante salientar que, quando estes problemas visuais não são identificados, podem comprometer o modo como a criança percepciona o mundo e influenciar as suas capacidades, principalmente ao nível do seu desempenho escolar e da interacção interpessoal.

José Geraldes

Director Técnicodo Centrooptico

Fontes:https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/328717/9789241516570-por.pdf

https://www.cecop.pt/problemas-da-visao-na-infancia-quais-os-mais-comuns/