O tratamento poucas horas após o nascimento limita a capacidade do vírus de criar reservatórios. Mas ainda é cedo para falar em recuperação
Não podemos falar sobre cura ainda. Mas os resultados de um ensaio em crianças afectadas pelo VIH suscitam esperança. Quatro crianças que eram seropositivas à nascença permaneceram sem vestígios detectáveis do vírus VIH durante mais de um ano após a suspensão da terapêutica anti-retroviral, no âmbito de um estudo clínico destinado a verificar se o início precoce da terapêutica – poucas horas após o nascimento – é capaz de levar à remissão do HIV. A notícia foi dada durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (Croi) que aconteceu nos últimos dias em Denver (EUA).
“Estes resultados são uma evidência clara de que o tratamento muito precoce permite que as características únicas do sistema imunitário neonatal limitem o desenvolvimento do reservatório do VIH, o que aumenta a perspetiva de remissão”, disse Jeanne Marrazzo, diretora do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. que apoiou o estudo.
As mulheres com VIH que, através da terapia, conseguem ter uma carga viral persistentemente indetectável têm um risco quase nulo de transmitir o vírus aos seus filhos. No entanto, a transmissão pode ocorrer em caso de controlo insuficiente da infecção. Nesse caso, se a criança contrair o vírus, terá que fazer a terapia pelo resto da vida. Em 2013 foi registado o primeiro caso de uma menina nascida com VIH em que, após o início precoce do tratamento antirretroviral, foi possível suspender a terapêutica sem perder o controlo da infecção. A menina, rebatizada de ‘bebê do Mississippi’, contraiu a infecção ao nascer, de sua mãe, que não sabia que ela era HIV positiva. Os médicos iniciaram o tratamento antirretroviral 30 horas após o nascimento. Por volta dos 2 anos de idade, apesar da interrupção da terapia, os médicos encontraram níveis indetectáveis do vírus. Posteriormente, a menina testou positivo para o vírus, porém, esse episódio abriu uma nova linha de pesquisa.
Os dados actuais referem-se a um ensaio, apoiado pelo NIH americano e iniciado em 2015, em curso no Brasil, Haiti, Quénia, Malawi, África do Sul, Tanzânia, Tailândia, Uganda, Estados Unidos, Zâmbia e Zimbabué. Em particular, centra-se num grupo de 6 crianças de 5 anos. Quatro deles alcançaram a remissão do VIH. Um por 80 semanas, porém com ressurgimento da infecção. Outros três ainda estão em remissão após 48, 52 e 64 semanas.
“Este é o primeiro estudo a replicar e expandir rigorosamente as descobertas observadas no relato de caso do Mississippi”, disse a virologista líder do estudo, Deborah Persaud, diretora da divisão de doenças infecciosas pediátricas do Centro Infantil Johns Hopkins, em Baltimore. “Estas descobertas são um passo em frente na investigação sobre a remissão e cura do VIH, mas também indicam a necessidade de testes neonatais imediatos e início do tratamento para todas as crianças potencialmente expostas ao VIH no útero.”
Fonte: Healthdesk