Em um estudo inovador que aprofunda nossa compreensão sobre a interação entre as experiências da infância e a estrutura cerebral, o pós-PhD em neurociências, Fabiano de Abreu Agrela, lança luz sobre como os eventos sociais precoces podem deixar marcas duradouras em nosso desenvolvimento. O estudo, conduzido pelo CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito em conjunto com o Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, explora o papel da epigenética, um campo que investiga como fatores externos podem influenciar a expressão dos genes sem alterar o DNA em si.
O Dr. Fabiano destaca que os primeiros anos de vida são cruciais para a formação da arquitetura cerebral, um período de notável plasticidade, mas também de grande vulnerabilidade. As experiências sociais nesse estágio inicial, sejam elas positivas ou negativas, podem moldar o cérebro de maneira profunda e duradoura, com impactos que se estendem por toda a vida. A epigenética, nesse contexto, atua como uma espécie de “memória molecular”, registrando essas vivências e traduzindo-as em modificações na atividade dos genes.
Um dos mecanismos epigenéticos mais importantes nesse processo é a metilação do DNA, que consiste na adição de um grupo químico ao DNA, alterando a forma como os genes são “lidos” pela célula. O Dr. Fabiano explica que experiências positivas, como o cuidado materno adequado, podem levar à ativação de genes que promovem o desenvolvimento saudável do cérebro e a resiliência ao estresse. Em contrapartida, vivências adversas, como abuso ou negligência, podem desencadear modificações epigenéticas que aumentam o risco de problemas de saúde mental e física ao longo da vida.
O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), responsável pela resposta ao estresse, é particularmente suscetível a essas influências epigenéticas. Estudos em animais demonstraram que a falta de cuidado materno adequado pode levar a alterações na metilação do DNA em genes relacionados ao eixo HPA, resultando em uma resposta exagerada ao estresse na idade adulta.
Embora ainda haja muito a ser desvendado sobre os mecanismos epigenéticos que medeiam a memória das experiências sociais precoces, as evidências apontam para um papel crucial da metilação do DNA na formação de “memórias” duradouras que moldam o desenvolvimento cerebral e a saúde ao longo da vida. O estudo do Dr. Fabiano reforça a importância de
um ambiente acolhedor e estimulante nos primeiros anos de vida, destacando o impacto profundo que essas experiências podem ter em nossa trajetória.
(link do estudo: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0306452212001520)