18 de Dezembro, 2024
Ressonância magnética permite detecção precoce de lesões pancreáticas pela primeira vez
Estudo

Investigadores da Fundação Champalimaud atingiram um marco significativo na luta contra o cancro do pâncreas ao conseguirem, pela primeira vez, detectar lesões pancreáticas pré-malignas através de ressonância magnética (RM). Este avanço poderá abrir caminho para diagnósticos precoces e não invasivos desta doença devastadora, conforme anunciado nesta sexta-feira pela instituição.

O estudo, publicado na prestigiada revista científica Investigative Radiology, demonstra que uma forma particular de RM, chamada “imagem por tensor de difusão” (DTI, na sigla em inglês), é capaz de identificar, de forma robusta, lesões pré-malignas no pâncreas. Esta descoberta pode transformar o diagnóstico e o tratamento de um dos cancros mais mortíferos e de mais difícil detecção.

O Contexto Alarmante do Cancro do Pâncreas

De acordo com o Instituto Nacional do Cancro dos EUA, o cancro do pâncreas é a terceira principal causa de morte por tumor maligno naquele país. A taxa de sobrevivência a cinco anos é estimada em 44% quando a doença é diagnosticada numa fase inicial e cai drasticamente para 3% em casos de metástase. Esta dificuldade deve-se, em grande parte, à falta de sintomas específicos e ao diagnóstico tardio, quando o cancro já se encontra em estágio avançado e inoperável.

A maioria dos casos de cancro pancreático surge a partir de uma lesão precursora chamada neoplasia intraepitelial pancreática (PanIN). Contudo, não existiam, até agora, ferramentas de diagnóstico não invasivas para identificar estas lesões de forma precoce.

Uma Nova Abordagem com RM

A investigação liderada por Noam Shemesh, do laboratório de RM Pré-clínica da Champalimaud Research, e Carlos Bilreiro, radiologista do Centro Clínico Champalimaud, focou-se na aplicação da DTI para diferenciar as PanIN de quistos pancreáticos benignos. Esta técnica já era utilizada para imagens cerebrais, mas nunca tinha sido explorada no contexto do cancro do pâncreas.

Utilizando amostras de tecido pancreático e ratinhos transgénicos predispostos ao desenvolvimento destas lesões, a equipa conseguiu identificar as alterações microestruturais que caracterizam as PanIN. Além disso, resultados semelhantes foram obtidos em amostras humanas, sugerindo a potencial aplicação clínica desta técnica.

Implicações Futuras

Carlos Bilreiro descreveu o estudo como um “marco na investigação de lesões pré-malignas do cancro do pâncreas”, enfatizando que a descoberta permite não apenas detectar estas lesões em estágios iniciais, mas também entender melhor a progressão da doença. Para a aplicação clínica, serão necessários estudos adicionais que adaptem a técnica a cenários clínicos e explorem intervenções preventivas ou de vigilância.

Este estudo representa um passo crucial na direção de um futuro onde o cancro do pâncreas pode ser diagnosticado de forma precoce, salvando inúmeras vidas. A investigação reforça a relevância da colaboração multidisciplinar em projetos de ciências biomédicas.

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