3 de Julho, 2024
Edit Content
Familiares de pacientes continuam a pernoitar no exterior dos hospitais
AngolaNotícia

Dezenas de pessoas, a maioria mulheres, não arredam pé, faça sol ou faça chuva, quando se trata de um marido, esposa, filho ou sobrinho internado.

Quem circula na Avenida Revolução de Outubro, na entrada para o Banco de Urgência do Hospital Josina Machel, depara-se com familiares de pacientes internados naquela unidade, que passam a noite na via pública.

Alguns de pé, outros sentados, sem se alimentarem em condições, aguardam, ansiosamente, por informações sobre o estado de saúde do familiar internado.

Dezenas de pessoas, a maioria, mulheres, não arredam pé, faça sol ou faça chuva, quando o assunto é marido, esposa, filho ou sobrinho doente.

O Jornal de Angola efectuou uma ronda para constatar as condições de acolhimento dos familiares dos pacientes internados nas principais unidades hospitalares da capital do país, com destaque para os Hospitais Josina Machel, Prenda, Complexo Hospitalar Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, Hospital Geral de Luanda e Hospital Materno Infantil Azacont de Menezes.

No Hospital Josina Machel, encontrámos Fiel Henriques, morador do Bairro Operário, que se dedica à comercialização de papelão, onde as pessoas se deitam para passar a noite.

Fiel Henrique recolhe o produto nos armazéns do São Paulo e noutros estabelecimentos comerciais. O preço da tira de papelão varia entre 100 e 300 kwanzas, de acordo com o comprimento e largura.

Regularmente, os seguranças, enfermeiros e médicos procuram pelos familiares dos pacientes, para informar sobre a falta de fraldas descartáveis, água para beber, sumos e, às vezes, dadores de sangue.

“Estamos aqui há três dias”, disse Conceição Sebastião, de 39 anos, que tem um dos filhos internado.

Para fazer as necessidades fisiológicas ou tomar banho, os familiares de pacientes pagam 100 kwanzas, por pessoa, para um quarto de banho nas imediações, sem o mínimo de condições.

“Para nos alimentarmos, quando os familiares não aparecem, dependemos da solidariedade das amizades criadas a partir daqui”, lamenta Conceição Sebastião.

A entrevistada disse que da baixa da cidade até ao bairro Malueca, no Cazenga, gasta três mil kwanzas por dia, razão pela qual prefere passar a noite.

Fátima Adriana, moradora do município de Cacuaco, tem o filho de 15 anos de idade internado, com dor de bexiga.

O hospital assegura as três refeições para o paciente. No entanto, enquanto se aguarda pela refeição do hospital, algumas vezes, os familiares são chamados para dar água, bolachas ou sumos, para garantir a sua rápida recuperação.

“Desde que chegámos aqui, não pagámos nada, toda a medicação para os pacientes internados é garantida pelo hospital”, confirmou.

Questionada por que razão passa a noite no exterior do hospital, com o risco de contrair uma doença, Fátima Adriana explicou que o coração de mãe não lhe permite ficar em casa sabendo que a filha está internada no hospital.

Recomendação da OMS

A directora explicou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que se reconheça à mulher o direito de ter alguém da sua confiança ao lado durante o parto.

“Às vezes encontramos alguma resistência por parte de alguns funcionários, que tendem a restringir este direito. No entanto, orientamos para que situações desta natureza não se verifiquem”, garantiu. Quanto às visitas, explicou, iniciam às 15 horas e terminam às 17 horas, todos os dias.

No entanto, para os doentes graves, não existe um horário fixo, podendo os familiares ter acesso à sala de internamento a qualquer hora.

A troca dos acompanhantes é feita até às 18 horas, por razões de segurança. “Na nossa unidade hospitalar, os familiares que ficam fora fazem-no por outros motivos, porque não há razões para permanecerem ao relento durante a noite”, disse.

A médica explicou que a unidade hospitalar não chama pelos familiares dos pacientes fora dos horários normais de expediente. Além disso, dispõe de Gabinete do Utente, onde os acompanhantes podem consultar as informações sobre a evolução do estado de saúde dos internados.

Fonte: JA

Deixa o seu comentário