O país está a enfrentar um surto de cólera que já contabiliza 2069 casos e 70 óbitos, segundo dados actualizados. Para combater a propagação da doença, iniciou-se nesta segunda-feira uma campanha de vacinação utilizando a vacina oral Euvichol, recebida no dia 20 de janeiro. A iniciativa, apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), está a ser implementada nas províncias de Luanda (especificamente nos bairros Paraíso e Belo Monte) e em Icolo e Bengo, áreas que registram os maiores índices de infecção.
Um aspecto crucial desta campanha é a administração de apenas uma dose da vacina, uma estratégia adotada devido à escassez global de vacinas e à necessidade de proteger o maior número possível de pessoas em curto prazo.
A vacina Euvichol faz parte de um estoque global de oito milhões de doses reservadas pela OMS para respostas a surtos epidêmicos. Devido à limitação no número de vacinas disponíveis, a campanha está sendo direcionada para as regiões mais afectadas, priorizando as comunidades com maior incidência da doença e os profissionais de saúde que actuam diretamente no atendimento aos infectados.
Impacto da Vacinação
A vacina Euvichol, utilizada na campanha, é uma vacina oral de dose única que oferece proteção rápida contra a cólera, estudos demonstram que uma única dose já é eficaz na redução imediata da transmissão da doença, especialmente em contextos de surto.
De acordo com um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases em 2018, a administração de uma dose única da vacina oral contra a cólera mostrou uma eficácia de aproximadamente 40% a 60% na prevenção de casos sintomáticos nos primeiros seis meses após a vacinação. Essa proteção é suficiente para reduzir significativamente a propagação da doença em situações de emergência, como a que Angola enfrenta actualmente. Além disso, a vacinação em massa com uma dose contribui para a imunidade coletiva, protegendo indiretamente pessoas não vacinadas ao reduzir a circulação da bactéria Vibrio cholerae.
A OMS recomenda o uso de uma dose única em cenários de surto, quando há limitações no fornecimento de vacinas e é necessário agir rapidamente para conter a propagação da doença. Essa abordagem foi adotada com sucesso em outros países africanos, como Moçambique e Zimbábue, durante surtos de cólera nos últimos anos.
A concentração da campanha nas províncias de Luanda e Icolo e Bengo, onde se registram os maiores números de casos, é uma estratégia crucial para maximizar o impacto da vacinação. A cólera é uma doença altamente contagiosa, que se espalha rapidamente em áreas com condições precárias de saneamento e acesso limitado à água potável. Ao vacinar as comunidades mais afectadas, espera-se interromper as cadeias de transmissão e reduzir o número de novos casos e óbitos. No entanto, a longo prazo, investimentos em infraestrutura sanitária e acesso a água potável serão essenciais para prevenir futuros surtos.
Por: Humberto Serviço