O Instituto Nacional de Luta contra a SIDA (INLS) anunciou esta terça-feira que foram notificados 13.037 casos de hepatite B no país entre 2021 e junho deste ano. Desse total, 92% concentram-se em Luanda, reflexo da maior disponibilidade de unidades sanitárias e capacidade de diagnóstico na capital.
Os dados foram divulgados por José Van-Dúnem, director-geral adjunto do INLS, durante o lançamento da campanha alusiva ao Dia Mundial das Hepatites, celebrado em 28 de Julho.
Dados alarmantes: prevalência e grupos mais afectados
- Mulheres são as mais atingidas (10.657 casos), sendo 72% gestantes.
- A transmissão vertical (de mãe para filho) é uma das principais vias de contágio.
- Apesar da introdução da vacina ao nascer (HepBD), a cobertura vacinal é apenas 45% globalmente e 18% na região africana.
- Em Angola, o Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS 2023-2024) revela uma prevalência de 21% de hepatite B, muito superior à do VIH (1,6%).
- Homens são mais afetados (23%) do que mulheres (19%).
Hepatite B: Uma ameaça silenciosa
José Van-Dúnem alertou que, apesar de ser prevenível e tratável, a hepatite viral causou 1,1 milhão de mortes em 2022 (dados da OMS). Estima-se que 253 milhões de pessoas vivam com hepatite B crônica, principalmente em África e Ásia.
As complicações da doença incluem cirrose, insuficiência hepática e cancro do fígado, daí a necessidade de intensificar prevenção, diagnóstico e tratamento.
Estratégias de combate: Protocolo nacional e vacinação
Graça Manuel, chefe do Departamento do INLS, destacou que o Protocolo Nacional para Prevenção, Diagnóstico e Tratamento das Hepatites Virais está a ser implementado, com foco na hepatite B.
Principais medidas em curso:
– Testagem gratuita em 13 unidades sanitárias com foco materno-infantil.
– Meta de aumentar a testagem em grávidas de 30% para 70% até 2026.
– Tratamento gratuito em províncias como Luanda, Benguela, Huíla, Cunene e Uíge.
– Reforço da vacinação neonatal (apenas 58% dos recém-nascidos receberam a dose B0 em 2021).
Desafios: orçamento e hepatite C
- A hepatite C ainda não tem tratamento amplamente disponível devido a limitações orçamentais, mas está prevista a introdução de antivirais pangenotípicos (com taxa de cura em 12 semanas).
- O programa é financiado pelo Orçamento Geral do Estado (OGE), sem apoio externo.
A eliminação da hepatite B até 2030 é uma meta global, mas Angola enfrenta desafios como baixa cobertura vacinal e diagnóstico tardio. As autoridades reforçam a necessidade de maior conscientização, testagem e acesso ao tratamento para reduzir a carga da doença no país.
Evento contou com a presença de: INLS, Direcção Nacional de Saúde Pública, Forças Armadas, clínicas privadas e organizações médicas.