O abandono de doentes no Hospital Psiquiátrico de Luanda está a preocupar a direção da unidade sanitária que assistiu, de Janeiro a data presente, um total de 53.984 pacientes, disse, domingo, a diretora-geral da instituição.
Antónia de Sousa disse que atualmente a unidade sanitária tem 420 pacientes internados, dos quais 250 do sexo masculino. As doenças mais frequentes, referiu, têm sido as síndromes afetivas e as psicóticas, por uso de substâncias psicoativas, ou de origem orgânica.
Com base numa pesquisa feita pela instituição, adiantou, as principais causas das patologias têm sido a falta de emprego, dificuldades socioeconómicas, o consumo exagerado de álcool e outras substâncias psicoativas.
Atualmente, realçou, muitos pacientes continuam no hospital por terem sido abandonados pelos familiares. “Mais da metade dos pacientes internados foram abandonados à sorte pelos familiares. Dos 53.984 pacientes atendidos, 40.384 foram no Banco de Urgência e os outros 13.600 nos serviços de consulta externa”, avançou.
O nível de abandono registado, lamentou, é uma situação muito grave, porque os doentes com problemas de saúde mental precisam do apoio familiar. “Ninguém pede para estar nesta situação. É na família onde os pacientes devem encontrar o apoio para superar os desafios”.
Mesmo depois de reintegrados no meio familiar e na sociedade, explicou, muitas pessoas encontram dificuldades para voltar a serem activos social ou profissionalmente. “A família é o núcleo fundamental da sociedade e é nela que as pessoas afectadas por estas patologias devem encontrar o apoio necessário para superar os desafios”, destacou, acrescentando que atualmente o oposto é o mais comum. “Infelizmente, é a própria sociedade a primeira a estigmatizá-los”.
O Hospital Psiquiátrico de Luanda, disse a directora, não tem capacidade suficiente para internar os 53.984 pacientes assistidos. “Mas, se as famílias não estão dispostas a ficar com eles, nós não podemos abandoná-los. Outro aspeto que pesa é o facto de além dos pacientes de Luanda, também internamos doentes provenientes de outras províncias”.
Antónia da Silva explicou que o hospital conta com 20 médicos, destes quatro são cubanos. “O número é irrisório para dar resposta à demanda de pacientes atendidos diariamente”, adiantou, além de realçar que, com o passar dos anos, o Ministério da Saúde tem feito o recrutamento de profissionais anualmente.
O Ministério da Saúde (MINSA), de acordo com o secretário de Estado para a Saúde Pública, Carlos Alberto Pinto de Sousa, tem em curso um Plano de Formação Emergencial, para a capacitação de 38 mil quadros em diferentes especialidades, incluindo mais médicos especialistas.
“A inclusão de mais psicólogos indica que teremos uma resposta mais inclusiva, voltada para a redução da permanência dos pacientes no hospital. É também uma possibilidade para garantir melhorias no atendimento humanizado”, destacou.
O ministério, referiu, tem estado a trabalhar, cada vez mais, para a melhoria do sector. “Desde o alcance da independência, onde o país contava com apenas 19 médicos, já foram integrados mais de sete mil médicos formados em todas as especialidades. Além disso foi feito um investimento em infraestruturas, equipamentos de última geração para dar resposta aos catuais desafios do sector”, referiu.
Nos últimos cinco anos, salientou, o MINSA integrou mais psicólogos em todo o país, através da realização de concursos públicos.
“Apesar dos esforços empreendidos, reconhecemos que o número ainda não é suficiente para dar resposta às necessidades, porque a doença mental é um problema de saúde pública que atualmente tem afetado sobretudo os jovens e têm vindo a aumentar consideravelmente”
Fonte: Jornal de Angola