5 de Agosto, 2025

Jovem de 27 anos Morre em 48h Após usar Vape: Pulmões Ficaram Sem Capacidade de Expansão

Paciente masculino, 27 anos, usuário de cigarro eletrônico (previamente não tabagista), admitido no pronto-atendimento com dispneia progressiva (falta de ar), hemoptise (tosse com sangue), vômitos, dessaturação (SpO2 78% em ar ambiente) e insuficiência respiratória aguda tipo 1. Radiografia (ou Raio-X) de tórax evidenciou opacidades bilaterais difusas em “vidro fosco” e áreas de consolidações, confirmadas pela tomografia computadorizada que demonstrou padrão de pneumonia organizante com áreas de faveolamento e espessamento septal difuso. Instituído suporte ventilatório não-invasivo, corticoterapia (metilprednisolona 1g/dia), broncodilatadores (salbutamol e ipatrópio), antibioticoterapia empírica de amplo espectro e suporte hemodinâmico, sem resposta clínica satisfatória. O paciente evoluiu com rebaixamento do nível de consciência, com necessidade de intubação orotraqueal e transferência para UTI, onde permaneceu por 48h em ventilação mecânica invasiva até o óbito por insuficiência respiratória refratária.

Necropsia revelou pulmões com peso aumentado (direito:850g, esquerdo:780g), coloração esbranquiçada difusa, consistência firme e perda da elasticidade pulmonar. No exame histopatológico foi evidenciada fibrose pulmonar difusa com obliteração alveolar, espessamento da membrana basal, infiltrado inflamatório crônico predominantemente linfocitário e outros achados que, ao final, configuram uma pneumonia lipídica exógena com fibrose pulmonar irreversível secundária ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos para fumar (EVALI – E-Cigarette or Vaping Product use-Associated Lung Injury).

3 exames de imagem que ilustram o dano causado pelo uso de vape pelo paciente
New England Journal of Medicine – Mohd Zulkimi Roslly, M.D

O cigarro eletrônico é um aparelho que vaporiza uma solução líquida que composta por nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal e diversos aromatizantes através de uma resistência elétrica aquecida. Embora o primeiro tenha sido criado por volta de 1963 por Hebert Gibert, o cigarro eletrônico teve o seu desenvolvimento na China em 2003 por Hon Lik e ganhou popularidade mundial a partir de 2007, com o objetivo de ser comercializado como alternativa “mais segura” do que o cigarro convencional.

Na geração atual, especialmente entre jovens de 16-30 anos, o uso de cigarros eletrônicos tem se expandido exponencialmente por diversas razões como: marketing com sabores atrativos (frutas, doce, mentol, etc.), design moderno e tecnológico, facilidade de uso discreto, percepção errônea de menor risco à saúde, influência das redes sociais e crença de que auxilia na cessação do tabagismo. Dados epidemiológicos demonstram aumento de mais de 300% no uso entre 2017 e 2023, configurando uma epidemia de dependência nicotínica em vários países pelo globo terrestre.

Os componentes do cigarro eletrônico causam danos pulmonares mais severos e irreversíveis comparados ao cigarro tradicional através de múltiplos mecanismos patogênicos. O propilenoglicol e a glicerina vegetal, quando aquecidos acima de 200ºC, decompõem-se em aldeídos altamente tóxicos (como formaldeído, acetaldeído, acroleína) e causam inflamação alveolar aguda e fibrose pulmonar progressiva.

Os aromatizantes, especialmente diacetil e acetoína, induzem a bronquiolite obliterante (“pulmão em pipoca”), enquanto os óleos de vitamina E e acetato levam a pneumonia lipídica exógena. A temperatura de vaporização (300-400ºC) gera nanopartículas ultrafinas de metais pesados (como níquel, cromo, chumbo) que penetram profundamente no parênquima pulmonar, causando estresse oxidativo celular, apoptose de pneumócitos e fibrose intersticial difusa.

Pulmão Saudável vs Pulmão Fumante
Pulmão em Pipoca

Diferente do cigarro convencional, onde a combustão é intermitente, o cigarro eletrônico mantém exposição contínua a substâncias tóxicas, que resultam em concentrações alveolares 5-10 vezes maiores de compostos nocivos e progressão mais rápida para insuficiência respiratória irreversível.

O diagnóstivo de EVALI (E-Cigarrete or Vaping product use-Associated Lung Injury) baseia-se na tríade clínica: sintomas respiratórios agudos (dispneia, tosse, dor torácica), uso documentado de cigarro eletrônico nos últimos 90 dias e exclusão de infecções pulmonares. A tomografia de alta resolução revela opacidades em vidro fosco bilaterais, consolidações e espessamento septal, enquanto o lavado broncoalveolar demonstra macrófagos espumosos carregados com lipídeos.

Dentre as consequências constam, principalmente, fibrose pulmonar irreversível, hipertensão pulmonar secundária, insuficiência respiratória crônica e, em casos graves, evolução para óbito em 48-72 horas por SARA refratária. A prevenção primária envolvem campanhas educativas sobre os riscos reais, regulamentação governamental rigorosa da comercialização, capacitação de profissionais para identificação precoce e desenvolvimento de programas específicos de cessação do vaping, tendo em consideração que a dependência nicotínica gerada é equivalente ou superior à do cigarro tradicional. 

Artigo de Óscar Paulo & New England Journal of Medicine (Mohd Zulkimi Roslly, M.D)

O melhor método de cuidado, para todos nós e os que amamos, ainda é a prevenção.

Óscar Paulo JR., graduando de Medicina e aspirante à pesquisador pela SLMANDIC de Araras – SP, Brazil

https://www.linkedin.com/in/oscarpaulojr.

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