Um homem de 29 anos com HIV-positivo controlada apresentou-se à clínica de especialidade em HIV com a queixa de descoloração da língua (ficou esbranquiçada) e com dor há 1 semana. Também referiu 4 semanas de úlceras dolorosas no escroto. No exame físico, foram identificadas máculas gotejadas suaves e rosadas na língua, que estavam dentro de uma camada branca que não se limpava. Região genital sem erupções, com linfadenopatia ou úlceras. Iniciou-se o tratamento empírico para candidate oral suspeitada inicialmente, mas o paciente referiu que a dor na língua não diminui. Após 4 dias, os resultados dos exames laboratoriais demonstravam a presença de Treponema pallidum e presença de placas “en prairie fauchée” (“prado cortado”) que confirmaram o diagnóstico da sífilis secundária. As manifestações orais da sífilis são diversas e podem imitar outras doenças, que torna o diagnóstico mais desafiador. O paciente foi tratado com penicilina G benzina intramuscular e, após 7 dias, as lesões na língua cessaram e ele voltou a ter sua qualidade de saúde restabelecida.



A sífilis é uma infecção bacteriana causada pelo Treponema pallidum, que pode se manifestar em estágios primário, secundário e terciário. No primário, a infecção é caracterizada por lesão ulcerada (conhecida como cancro duro), que aparece no local de entrada da bactéria. A sífilis secundária se apresenta com uma variedade de sintomas, que incluem erupções cutâneas, lesões mucosas e linfadenopatia generalizada. A infecção ocorre principalmente através do contato sexual desprotegido, mas também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez. O estado geral do acometido pode variar, mas, se não tratado, pode levar a complicações gravíssimas. O diagnóstico é feito por meio de testes sorológicos e o tratamento é realizado com antibióticos, geralmente penincilina G benzatina.
A sífilis secundária é uma preocupação significativa em África, onde a prevalência das infecções sexualmente transmissíveis continuam a ser alarmante. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que cerca de 1,5 milhões de casos de sífilis ocorrem anualmente em todo o continente africano. Em Angola, a taxa de sífilis entre adultos é estimada em 2,4% à 5% na população geral, com números mais elevados entre populações vulneráveis, como sex workers, homossexuais e com práticas promíscuas, onde a prevalência pode ultrapassar 20%. Os desafios enfrentados pelo sistema público e privado de saúde de Angola incluem a limitação de recurso, escassez de testes rápidos e eficazes e a necessidade de captação de profissionais de saúde para um diagnóstico e tratamento adequados, que resultam em muitos casos não diagnosticados e não tratados.
A prevenção da sífilis envolve, principalmente, campanhas educativas sobre saúde sexual. Testes regulares para sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis são fundamentais, especialmente para os grupos de riscos. Recomenda-se que mulheres grávidas sejam testadas para sífilis durante o pré-natal, para evitar a transmissão vertical (da mãe para o filho). Para uma resposta eficaz à sífilis, é crucial aumentar a consciencialização, melhorar o acesso aos cuidados de saúde e garantir o tratamento adequado para todos os afetados.
Artigo de Óscar Paulo & New England Journal of Medicine (Jonathan P. Angel, M.D)
O melhor método de cuidado, para todos nós e os que amamos, ainda é a prevenção.
Óscar Paulo JR, graduando de Medicina e monitor de Habilidades Clínicas na SLMANDIC – Faculdade São Leopoldo Mandic.
Presidente da Liga de Medicina Intensiva da SLM – Campinas (Dez. 2021 – Jan. 2023).
Tesoureiro da Liga de Cardiologia da SLM – Campinas (Jan 2021 – Jan 2023).
Voluntário e diretor do GEPE da Change 1’s Life AO (2020-2021).