O tabagismo é um dos principais problemas de saúde pública no mundo, sendo responsável pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas anualmente, de acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Angola, estima-se que aproximadamente 16% da população faz uso de tabaco, um número preocupante considerando os riscos para a saúde individual e coletiva, especialmente em países de baixa e média renda, onde vivem 80% dos usuários de tabaco no mundo.
Impacto do Tabagismo na Saúde Bucal
A boca, sendo a primeira porta de entrada para o resto do corpo, abriga uma complexa comunidade de microrganismos conhecida como microbioma oral. Estes organismos desempenham um papel crucial na manutenção da saúde bucal, auxiliando na digestão e protegendo o ambiente oral contra patógenos. Contudo, o equilíbrio desse microbioma pode ser facilmente perturbado por fatores como má higiene bucal, dieta inadequada, consumo de álcool e, especialmente, o tabagismo.
Um estudo recente, publicado na revista de saúde Heliyon, investigou a saúde bucal de 128 indivíduos e revelou diferenças significativas nas bactérias presentes nas bocas de fumantes e não fumantes. Fumantes apresentavam níveis mais elevados de bactérias nocivas, como Fusobacterium, Campylobacter, e Tannerella forsythia, as quais estão diretamente ligadas a doenças gengivais e aumentam o risco de doenças cardíacas devido ao potencial inflamatório que provocam no organismo.
Como o tabaco afeta o Microbioma Oral?
O cigarro contém diversas substâncias tóxicas, como nicotina, alcatrão, chumbo, amônia e produtos químicos radioativos, que ao serem inaladas alteram drasticamente o ambiente bucal. Essas toxinas diminuem os níveis de oxigênio na boca, alteram o pH e reduzem a produção de saliva, que é essencial para manter a boca úmida e para suas propriedades antibacterianas.
A saliva, por sua vez, desempenha um papel vital na manutenção do equilíbrio do microbioma oral. A falta de saliva e a redução dos níveis de oxigênio criam um ambiente ideal para o crescimento de bactérias prejudiciais, levando ao desenvolvimento de biofilmes dentais. Esses biofilmes podem causar desde a formação de placa bacteriana até doenças mais graves, como a periodontite, que se não tratada pode levar à perda dentária e até a infecções sistêmicas, como doenças cardiovasculares.
A Nicotina e o Fumo
A nicotina, um dos principais componentes do cigarro, é particularmente prejudicial ao microbioma oral. Ela aumenta a quantidade de proteínas nas superfícies de certas bactérias, como a Porphyromonas gingivalis, facilitando sua adesão às superfícies dentais. Isso resulta na formação de colônias bacterianas que provocam doenças gengivais e cáries. Outras bactérias, como Streptococcus mutans, também se proliferam em ambientes alterados pelo fumo, contribuindo para o desenvolvimento de cáries e aumentando o risco de câncer bucal.
É Possível Reverter os Danos?
Ao parar de fumar, a diversidade saudável do microbioma oral pode ser restaurada ao longo do tempo. Isso reduz significativamente o risco de doenças gengivais e promove a produção saudável de saliva.
Dado apontam que 16% da população angolana usa tabaco, é essencial intensificar os esforços para a prevenção e conscientização sobre os riscos do fumo. A prevenção é o melhor caminho, e campanhas de conscientização sobre os perigos do tabagismo precisam continuar, especialmente para os jovens.
O tabagismo afeta negativamente a saúde bucal de várias maneiras, alterando o microbioma oral, promovendo o crescimento de bactérias nocivas e contribuindo para o desenvolvimento de doenças sistêmicas graves. Parar de fumar é uma das formas mais eficazes de restaurar o equilíbrio bacteriano na boca e prevenir complicações graves.
Parar de fumar é um grande passo para proteger não só os dentes, mas o corpo todo.
Por: Humberto Serviço