O aumento dos transtornos mentais como depressão e ansiedade está diretamente ligado a condições socioeconômicas precárias, alertou um relatório da ONU sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, publicado recentemente.
A ligação entre pobreza e transtornos mentais, de acordo com o relatório intitulado A economia do ‘burnout’: pobreza e saúde mental, revela que a precariedade no trabalho e as condições de pobreza extrema multiplicam em até três vezes a possibilidade de uma pessoa desenvolver transtornos mentais. “As consequências são colossais para os indivíduos e para a sociedade, causando perdas econômicas anuais de mais de um trilhão de dólares para as economias globais”, destaca o relator da ONU, Olivier De Schutter.
Com mais de 970 milhões de pessoas no mundo, ou 11% da população global, convivendo com algum transtorno mental, os números são alarmantes: 280 milhões enfrentam a depressão, enquanto 301 milhões lidam com a ansiedade. E, a cada ano, 700 mil pessoas acabam cometendo suicídio – o que torna esta a quarta maior causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos.
A Crise da Saúde Mental e as Condições de Trabalho
No centro deste problema está a precarização do trabalho, que segundo De Schutter “agrava ainda mais a saúde mental devido à insegurança no emprego, à falta de poder de negociação, aos baixos salários e aos horários de trabalho imprevisíveis”. Essas condições desestruturam a vida pessoal, prejudicam o equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar e criam um ambiente onde os transtornos mentais se proliferam.
Além disso, a mudança climática também foi destacada no relatório como um factor de risco crescente para a saúde mental, afetando tanto a estabilidade econômica quanto a segurança alimentar e habitacional. O documento aponta para um ciclo preocupante no qual crises econômicas, instabilidades ambientais e desestabilizações no mercado de trabalho aumentam a vulnerabilidade das pessoas a problemas de saúde mental.
Situação em Angola
Em Angola, a situação é particularmente preucupante. O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) estima que, no próximo ano, o país terá aproximadamente 17 milhões de pessoas vivendo na pobreza. Esse quadro reforça a urgência de abordagens integradas que considerem não apenas o tratamento dos transtornos mentais, mas também as causas estruturais da pobreza e da precariedade no trabalho.
A falta de recursos e oportunidades cria um ciclo devastador de vulnerabilidade mental e econômica. Em um país onde o acesso a cuidados de saúde mental já é limitado, a relação entre pobreza e transtornos mentais coloca a população mais pobre em uma situação ainda mais desafiadora.
O relatório da ONU sinaliza que, mais do que apenas aumentar os orçamentos para a saúde mental, é crucial enfrentar os fatores que estão na raiz dessa crise, promovendo condições de vida mais dignas e seguras.
Por: Humberto Serviço