9 de Março, 2025
Proteínas da solidão: Os impactos do isolamento social na saúde
ArtigosFabiano AbreuSaúde e Bem-estar

Os seres humanos são naturalmente sociais, e a interação é essencial para a nossa sobrevivência e bem-estar. Contudo, no cenário actual, onde a digitalização predomina, sentimentos de solidão e isolamento social têm se tornado cada vez mais comuns. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 25% dos idosos vivem em isolamento social, enquanto entre 5% e 15% dos adolescentes relatam sentimentos de solidão.

Estes números são alarmantes porque o isolamento social e a solidão estão diretamente ligados ao aumento do risco de doenças graves e até mesmo à morte. Estudos recentes, incluindo uma publicação de 2022, indicaram que o isolamento social aumenta em 26% o risco de desenvolver demência em pessoas idosas. A solidão também mostrou estar fortemente associada à depressão.

O impacto das proteínas no corpo humano

Pesquisas recentes buscaram entender os processos biológicos que explicam a relação entre solidão, isolamento social e saúde. A proteômica, que estuda as proteínas no corpo, foi o foco de uma investigação conduzida pela Universidade de Cambridge em parceria com a Universidade Fudan. O estudo, publicado na revista Nature Human Behavior, analisou dados de mais de 42.000 participantes do UK Biobank, rastreando 2.920 proteínas plasmáticas.

Os resultados mostraram que certas proteínas relacionadas à inflamação e ao sistema imunológico estavam associadas à solidão e ao isolamento social. Em particular, cinco proteínas específicas (GFRA1, ADM, FABP4, TNFRSF10A e ASGR1) mostraram níveis aumentados em pessoas que relatavam sentir-se solitárias. Essas proteínas, expressas no cérebro, foram vinculadas a condições como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e AVC, além de estarem associadas a um maior risco de mortalidade.

Conexões sociais e saúde

Conforme destacado pelo Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em Neurociências e membro da Royal Society of Medicine no Reino Unido, “este estudo reforça o papel fundamental das conexões sociais no equilíbrio biológico e emocional. Relações positivas podem mitigar os efeitos nocivos do isolamento, promovendo uma saúde melhor a longo prazo”.

O Dr. Fabiano, que também é diretor do Gifted debate, um projeto que reúne mais de 500 superdotados de diversos países, constatou que indivíduos com superdotação profunda (QI acima de 146 pontos em testes válidos supervisionados) apresentam maior predisposição ao que ele chama de “depressão funcional” após os 40 anos. “Observamos que a solidão, combinada com o isolamento intelectual e social, pode agravar os impactos psicológicos, especialmente em pessoas de altíssima inteligência”, destaca o especialista, que também é presidente da ISI Society, uma sociedade que reúne membros com QI acima de 148 pontos.

As interações sociais ajudam a reduzir o estresse, a pressão arterial e fortalecem o sistema imunológico. Também promovem a saúde cognitiva e cerebral, melhorando a capacidade de empatia e resiliência emocional. Contudo, conexões profundas e significativas são mais benéficas do que interações superficiais, frequentemente promovidas pelas redes sociais.

O paradoxo da era digital

Embora a tecnologia tenha facilitado a comunicação, ela também pode contribuir para o aumento da solidão. Estudos indicam que interações face a face, que incluem comunicação não verbal, geram conexões mais positivas do que aquelas realizadas exclusivamente por meio digital. Este paradoxo, de estar cercado por interações virtuais e ainda assim sentir-se isolado, destaca a importância de manter relações interpessoais genuínas.

Promovendo uma sociedade conectada

Para construir uma sociedade mais saudável, é essencial investir em conexões significativas. Atividades sociais, como voluntariado ou esportes coletivos, podem ajudar a minimizar os efeitos do isolamento. Criar espaços que favoreçam interações presenciais pode trazer impactos positivos para a saúde física e mental, fortalecendo a resiliência emocional e promovendo o bem-estar de forma coletiva.

Deixa o seu comentário