A esclerose múltipla (EM) é uma das doenças mais comuns do sistema nervoso central, que afetam o cérebro e a medula espinhal. O transtorno neurológico é autoimune e afeta a maneira como os impulsos elétricos são enviados para o cérebro, o que gera fadiga intensa e problemas com a fala e deglutição. Um estudo realizado pelo Instituto do Cérebro de Paris e publicado na revista Neurology nesta quarta-feira (6) revela que enfermidades que afetam pacientes com esclerose múltipla podem ser identificados até cinco anos antes do diagnóstico clínico.
A professora, neurologista e chefe do centro de investigação clínica do Instituto do Cérebro de Paris, Céline Louapre, acompanhada por Octave Guinebretière e Thomas Nedelac, comparou os dados de saúde de 20.174 pacientes com esclerose múltipla, 54.790 pacientes sem esclerose múltipla e 37.814 pacientes afetados por duas doenças autoimunes que, como a EM, atingem principalmente mulheres e adultos jovens: doença de Crohn e lúpus.
Através de registos médicos da Health Improvement Network (THIN) do Reino Unido, a equipe analisou a trajetória de saúde dos pacientes, com foco na frequência de 113 sintomas e doenças comuns ao longo de cinco anos antes e cinco anos após o diagnóstico.
Os pesquisadores observaram que cinco sintomas estavam significativamente associados a um diagnóstico posterior de esclerose múltipla: depressão, distúrbios sexuais, constipação, cistite e outras infecções do trato urinário.
— A associação foi suficientemente robusta para afirmarmos que esses são sinais clínicos precoces, provavelmente relacionados a danos no sistema nervoso, em pacientes que serão diagnosticados posteriormente com esclerose múltipla — explica Céline Louapre.
Estudos prévios já sugeriam que, em alguns pacientes, sintomas sutis da EM estavam presentes até dez anos antes do diagnóstico, mas faltava quantificar o fenômeno em escala populacional para definir um período durante o qual a doença se instala discretamente. Além disso, uma melhor compreensão dos sintomas precoces da EM poderia ajudar os pesquisadores a identificar o momento exato em que começa o processo inflamatório que causa lesões no sistema nervoso central.
De acordo com Céline, a representação dos sintomas persistiu e até aumentou ao longo dos cinco anos após o diagnóstico e o desafio é detectar a doença o mais cedo possível, na esperança de retardar o início da incapacidade do paciente. Os resultados a pesquisa delineiam uma fase precedente da doença, mas ainda não permitem o desenvolvimento de uma técnica de detecção precoce.