Os cientistas que estudam a nova variante do vírus (Mpox) da varíola dos macacos, que se espalhou recentemente pela República Democrática do Congo (RDC), emitiram um alerta sobre a rápida evolução do vírus. De acordo com a agência ‘Reuters’, a nova estirpe da varíola dos macacos está a mudar mais rapidamente do que o esperado, o que coloca desafios adicionais para a resposta ao surto.
Desafios na Vigilância e Resposta ao Vírus
Os especialistas destacam que, em muitas áreas da África, os recursos financeiros e equipamentos necessários para rastrear o vírus adequadamente são insuficientes. Esta carência resulta em grandes incógnitas em relação ao comportamento do vírus, sua gravidade e as formas de transmissão, complicando a resposta global ao surto.
A varíola dos macacos é um problema de saúde pública em várias regiões da África desde 1970. No entanto, só ganhou atenção internacional em 2022, quando o vírus se espalhou para além do continente africano, levando a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar uma emergência de saúde global.
A Nova Estirpe Clade Ib: Um Perigo Crescente
Recentemente, uma nova estirpe do vírus, conhecida como clade Ib, voltou a preocupar a comunidade científica mundial. Esta estirpe é uma versão mutada do clade I, uma forma de varíola dos macacos transmitida através do contacto com animais infetados e endémica na RDC há décadas. Em 2023, o Congo registrou mais de 18 mil casos suspeitos de varíola dos macacos, incluindo subtipos I e Ib, resultando em 615 mortes, de acordo com dados da OMS.
Além disso, 222 casos confirmados do subtipo Ib foram registrados em quatro países africanos no último mês, com um caso na Suécia e outro na Tailândia, ambos em pessoas que haviam viajado recentemente para a África.
Incertezas e Preocupações dos Especialistas
Dimie Ogoina, especialista em doenças infecciosas no Hospital Universitário do Delta do Níger, na Nigéria, e presidente do comité de emergência de varíola dos macacos da OMS, expressou preocupações sobre a resposta ao surto na África. Segundo Ogoina, “Não compreendemos muito bem o nosso surto e, se não compreendermos muito bem o nosso surto, teremos dificuldade em resolver o problema em termos de dinâmica de transmissão, gravidade da doença, fatores de risco da doença”. O mesmo também destacou que o vírus parece estar a sofrer mutações e a produzir novas variantes.
Miguel Paredes, pesquisador que está a estudar a evolução do mpox e de outros vírus no Fred Hutchison Cancer Center, em Seattle, observou que a nova estirpe clade Ib parece estar a evoluir a um ritmo acelerado. A mutação conhecida como APOBEC3, que foi identificada nas infecções do clade Ib, é um sinal de adaptação do vírus ao hospedeiro humano, acelerando a sua evolução.
Necessidade Urgente de Investigação e Recursos
Apesar da urgência, as equipas que acompanham os surtos de varíola dos macacos em África enfrentam sérios desafios, como falta de acesso a produtos químicos necessários para testes de diagnóstico, que significa que a nova estirpe clade Ib pode passar despercebida em muitos casos. Isso dificulta o planejamento de uma resposta eficaz, incluindo estratégias de vacinação.
Os cientistas insistem na necessidade urgente de mais investigação e recursos para enfrentar a nova ameaça da varíola dos macacos. Sem uma resposta adequada, a evolução rápida do vírus e a sua potencial disseminação global podem tornar-se uma crise de saúde pública ainda mais grave.