28 de Junho, 2024
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Esperança e Cura: Um Relato Real Sobre o Câncer do Colo do Útero.
CiênciaÓscar Paulo, JR.

Uma mulher de 52 anos compareceu ao ambulatório ginecológico do hospital com a queixa de sangramento vaginal irregular há cerca de 6 meses, especialmente após as relações sexuais. Referiu dor pélvica intermitente e aumento do corrimento vaginal, que tem aspecto amarelado e odor fétido. Durante o exame físico, o colo do útero da paciente estava visivelmente alterado, com lesão exofítica, friável ao toque, de fácil sangramento e o exame Papanicolau (também chamado de Citologia Cervical) havia lesão intraepitelial escamosa de alto grau e presença de células glandulares atípicas. Devido à estas alterações profundas foi realizada uma biópsia cervical que confirmou o diagnóstico de carcinoma escamoso invasivo do colo do útero e na ultrassonografia transvaginal houve a presença de massa cervical de 3cm sem evidência de invasão para órgãos adjacentes.

O diagnóstico final desta paciente foi de carcinoma escamoso invasivo do colo do útero (estágio IB1 – classificação FIGO) e foi submetida a histerectomia radical com linfadenectomia pélvica, que é a retirada radical do útero e linfonodos associados. Além disto, foi submetida a radioterapia e quimioterapia com cisplatina, com uma evolução ótima sem sinais de recidiva no retorno após 3 meses do procedimento.

O câncer do colo do útero, também conhecido como câncer cervical, é o segundo tipo de câncer que afecta apenas a população feminina. Este tipo de câncer é considerado um problema de saúde pública porque tem uma incidência alta em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento e começam a partir dos 30 anos, aumentando o risco rapidamente até atingir o pico etário (entre 50 e 60 anos).

O principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões precursoras do câncer de colo do útero e do próprio câncer é a infeção pelo Papilomavírus Humano (HPV). Esta infeção pertence ao grupo das IST (Infeções Transmissíveis Sexualmente) e é a mais comum em todo o mundo e a maioria das pessoas sexualmente ativas, homens e mulheres, terão contacto com o vírus durante algum momento da vida. Entretanto, 90% dessas novas infeções regridem espontaneamente em 6 a 18 meses. Existem 13 tipos de HPV reconhecidos como oncogénicos pela IARC, International Agency for Research on Cancer, e os mais comuns são o HPV16 e HPV18.

Apesar disto, a infeção pelo HPV por si só não representa uma causa suficiente para o surgimento desse câncer, pois faz-se necessário a persistência da infeção. A associação com outros fatores de risco, como tabagismo e a imunossupressão (causada principalmente pelo HIV) influenciam no surgimento desta doença. A vacina contra o HPV é um dos instrumentos para o combate ao câncer de colo de útero, e em Angola estima-se que apenas 23% das mulheres foram vacinadas. Vale ressaltar que, mesmo as mulheres vacinadas, quando alcançarem a idade preconizada, deverão realizar a coleta do papanicolau, pois a vacina não protege contra todos os subtipos oncogénicos do HPV.

Sobre este câncer, de acordo com a Globocan e a OMS, Angola tem aproximadamente 3.660 novos casos diagnosticados, 2.930 mortes por ano, taxa de incidência de 55 casos por 100 mil mulheres anualmente e taxa de mortalidade de 44,1 por 100 mil mulheres.

O diagnóstico do câncer do colo do útero começa com a realização do exame de Papanicolau (citologia cervical), que deteta células anormais no colo do útero. Se este exame estiver anormal, será realizada a colposcopia e biópsia das áreas suspeitas. Após isto, exames de imagem (como ultrassom e tomografia computadorizada) são utilizados para avaliar a extensão local e à distância da doença. De acordo com o estágio da doença, o tratamento pode incluir cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

O caso real descrito acima ilustra a importância do rastreamento regular com o Papanicolau, que pode detetar lesões pré-cancerígenas e câncer cervical em estágios iniciais, permitindo um tratamento mais eficaz e melhor prognóstico. O seguimento médico correto feito pela paciente e a equipe médica multiprofissional (com ginecologista, enfermeiro, analista clínico / laboratorial, patologista, cirurgião etc.) são determinantes na melhoria e no consolo neste processo patológico muito sofrido.

Artigo de Óscar Paulo.

O melhor método de cuidado, para todos nós e os que amamos, ainda é a prevenção.

Óscar Alfredo Paulo JR, graduando de Medicina e monitor de Habilidades Clínicas na SLMANDIC – Faculdade São Leopoldo Mandic.
Presidente da Liga de Medicina Intensiva da SLM – Campinas (Dez. 2021 – Jan. 2023).
Tesoureiro da Liga de Cardiologia da SLM – Campinas (Jan 2021 – Jan 2023).
Voluntário e diretor do GEPE da Change 1’s Life AO (2020-2021).

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