Em 2023, a epidemia de VIH continuou a afetar milhões de pessoas em todo o mundo. Com 39,9 milhões de pessoas vivendo com o vírus, é evidente que o VIH permanece sendo uma questão de saúde pública significativa. Este número inclui 38,6 milhões de adultos e 1,4 milhões de crianças. Os dados são do mais recente relatório da ONUSIDA, apresentado nesta segunda feira por ocasião da 25ª Conferência Internacional sobre SIDA que decorre em Munique, na alemanhã, de 22 à 26 de julho.
Desde o início da epidemia, 88,4 milhões de pessoas foram infectadas pelo VIH e 42,3 milhões morreram de doenças relacionadas com a SIDA. Esses números sublinham a magnitude da crise de saúde pública e a necessidade contínua de esforços globais para controlar e eventualmente erradicar a doença. A compreensão dos dados é crucial para informar as políticas de saúde pública e garantir que os recursos sejam direcionados de maneira eficaz.
Avanços no Acesso ao Tratamento
A terapia antirretroviral (TAR) tem sido um pilar fundamental na luta contra o VIH. Em 2023, 30,7 milhões de pessoas estavam recebendo TAR, um aumento impressionante em relação aos 7,7 milhões em 2010. Este crescimento demonstra os progressos significativos feitos na expansão do acesso ao tratamento, mas também ressalta a necessidade de continuar esse avanço para atingir a meta de 34 milhões de pessoas em tratamento até 2025.
O aumento no acesso ao tratamento reflete os esforços globais para garantir que mais pessoas possam viver vidas saudáveis e produtivas, apesar do VIH. No entanto, os desafios permanecem, especialmente em áreas de difícil acesso e entre populações marginalizadas. A continuidade do financiamento e a implementação de programas de saúde comunitária são essenciais para manter e ampliar esses avanços.
Desafios Persistentes
Apesar dos progressos, ainda enfrenta-se desafios significativos na luta contra o VIH. Em 2023, 1,3 milhões de pessoas foram recentemente infectadas, uma redução de 60% desde o pico de 1995, quando 3,3 milhões de novas infecções foram registradas. No entanto, essa redução ainda está longe da meta de menos de 370.000 novas infecções até 2025. Mulheres e meninas foram responsáveis por 44% de todas as novas infecções em 2023, o que sublinha a necessidade de intervenções focadas em gênero.
A mortalidade relacionada à SIDA também diminuiu significativamente. Em 2023, 630.000 pessoas morreram de doenças relacionadas com a SIDA, uma redução de 69% desde o pico em 2004. No entanto, a meta para 2025 é menos de 250.000 mortes. A mortalidade diminuiu 56% entre mulheres e meninas e 47% entre homens e meninos desde 2010. Este progresso é encorajador, mas ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar as metas globais.
Populações Mais Vulneráveis
Certos grupos continuam a ser desproporcionalmente afetados pelo VIH devido à marginalização, discriminação e, em alguns casos, criminalização. Entre os adultos de 15 a 49 anos, a prevalência média do VIH é de 0,8% globalmente. No entanto, essa taxa é significativamente mais alta entre grupos vulneráveis:
- Mulheres jovens e meninas (15 a 24 anos) na África oriental e meridional: 2,3%
- Homens gays e outros homens que fazem sexo com homens: 7,7%
- Profissionais do sexo: 3%
- Pessoas que injetam drogas: 5%
- Pessoas transgênero: 9,2%
- Pessoas em prisões: 1,3%
Estas estatísticas destacam a necessidade de abordagens específicas para esses grupos, que enfrentam barreiras adicionais ao acesso ao tratamento e à prevenção. Políticas inclusivas e de combate à discriminação são essenciais para reduzir essas disparidades e garantir que todos tenham acesso aos cuidados de saúde necessários.
Metas 95–95–95
As metas 95–95–95 da ONU visam garantir que 95% das pessoas vivendo com VIH conheçam seu status, 95% das diagnosticadas recebam tratamento e 95% das tratadas atinjam supressão viral. Em 2023, os progressos foram encorajadores, mas ainda há lacunas a serem preenchidas:
- 86% de todas as pessoas vivendo com VIH conheciam seu status.
- Entre aqueles que conheciam seu status, 89% estavam em tratamento.
- Entre os tratados, 93% tinham supressão viral.
Esses números são positivos, mas indicam a necessidade de intensificar os esforços, especialmente entre homens e crianças, onde as taxas de conhecimento do status e de tratamento são menores. Programas específicos e a utilização de novas tecnologias, como testes rápidos e tratamentos mais acessíveis, são cruciais para atingir essas metas.
Investimentos e Financiamento
O financiamento adequado é essencial para sustentar e expandir os progressos na luta contra o VIH. Em 2023, US$ 19,8 bilhões estavam disponíveis para a resposta à SIDA em países de baixa e média renda. No entanto, houve uma queda de 5% no financiamento em relação a 2022, e uma redução de 7,9% entre 2020 e 2023. Para atingir as metas de 2025, serão necessários US$ 29,3 bilhões.
Essa lacuna de financiamento é uma barreira significativa para o progresso contínuo. É crucial que os governos, doadores internacionais e o setor privado aumentem seu apoio financeiro. Investir na resposta ao VIH não é apenas uma questão de saúde, mas também de justiça social e desenvolvimento sustentável.
Perspectivas Futuras
Para alcançar um futuro sem SIDA, é essencial continuar investindo em pesquisa, inovação e estratégias de prevenção. Programas de educação e conscientização, juntamente com a eliminação da discriminação e o fortalecimento dos sistemas de saúde, serão pilares fundamentais nesta jornada. Com esforços coordenados e um compromisso global, é possível transformar a trajetória da epidemia de VIH e garantir um futuro mais saudável para todos.
Os dados de 2023 sobre o VIH/SIDA mostram tanto progresso quanto desafios persistentes. O aumento no acesso à terapia antirretroviral e a redução das novas infecções são conquistas notáveis. No entanto, as desigualdades de gênero e a marginalização de certos grupos ainda são obstáculos significativos. A meta de acabar com a SIDA como uma ameaça à saúde pública até 2030 é ambiciosa, mas alcançável com o compromisso renovado de governos, organizações e comunidades.
Por Humberto Serviço