Inovação abre caminho para transplantes de coração efeito dominó, onde um coração é capaz de salvar duas vidas
O primeiro transplante parcial de coração do mundo foi considerado bem-sucedido. O marco é atingido um ano após sua realização. O procedimento foi realizado em 2022, por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, em uma criança com apenas 18 dias de vida, que precisava de troca de válvula cardíaca.
Anteriormente, o tratamento padrão para esse tipo de condição era o uso de válvulas artificiais. O problema é que elas não cresciam junto com o coração da criança e precisavam ser frequentemente substituídas, implicando em múltiplos procedimentos cirúrgicos que acarretam uma taxa de mortalidade de 50%.
A nova técnica, relatada em artigo publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA), levou a duas válvulas e artérias funcionando bem, que vão crescendo em conjunto com a criança, como se fossem vasos nativos.
“Esta publicação é a prova de que esta tecnologia funciona, esta ideia funciona e pode ser usada para ajudar outras crianças”, disse o médico Joseph W. Turek, primeiro autor do estudo e chefe de cirurgia cardíaca pediátrica da Duke, que liderou o procedimento histórico.
O estudo também descobriu que o procedimento requer cerca de um quarto da quantidade de medicação imunossupressora de um transplante cardíaco completo, potencialmente salvando os pacientes de efeitos colaterais prejudiciais que podem piorar ao longo de décadas.
De acordo com os pesquisadores, a inovação ainda abre caminho para um transplante de coração efeito dominó, onde um coração é capaz de salvar duas vidas. Durante esse tipo de transplante, um paciente que tem válvulas saudáveis, mas precisa de um músculo cardíaco mais forte, recebe um transplante de coração completo; já suas válvulas saudáveis são doadas a outro paciente necessitado, criando um efeito dominó.
“Você poderia potencialmente dobrar o número de corações usados em benefício de crianças com doenças cardíacas”, diz Turek, em comunicado.
“De todos os corações doados, cerca de metade atende aos critérios para serem usados em transplantes completos, mas acreditamos que há um número igual de corações que poderiam ser usados para válvulas. Se você introduzir na cadeia de abastecimento os corações doados que não estavam sendo utilizados e adicionar as válvulas dos transplantes de coração dominó, isso pode criar uma mudança substancial”, avalia o médico.
Desde 2022, o procedimento de transplante parcial de coração já foi realizado 13 vezes, em quatro centros ao redor do mundo, incluindo nove pela equipe da Duke, onde a técnica foi inventada. Vários desses procedimentos foram transplantes de coração dominó.
Trazer esta inovação para um ensaio clínico é o próximo passo para atingir o volume de procedimentos necessário para mudar em grande parte a disponibilidade de corações.
“Esta inovação acrescenta muito a toda a comunidade de doadores porque está tratando mais crianças, ao mesmo tempo que honra os desejos dos pais doadores altruístas que deram o melhor presente”, conclui Turek.
Fonte: Jornal o Globo